sexta-feira, 4 de junho de 2010

Para combater o Alzheimer


Mexer o corpo, escutar música, fazer ginástica, namorar, conversar são atividades fundamentais para a saúde.


Maria da Guia Neres da Silva, 58 anos, conheceu Pedro Maia, 80, em uma tarde de 1983, embaixo de um bloco da 208 Sul. O então porteiro apaixonou-se por Maria e decidiu conquistá-la: foi até a Cidade Ocidental, onde a jovem morava e anunciou o seu amor pelo rádio. A declaração deu casamento e hoje, mais de 26 anos depois, a apaixonada Maria passa os dias cuidando de Pedro.

O aposentado recebeu o diagnóstico de Alzheimer há três anos, depois de entrar em profunda depressão ao saber da morte de um dos filhos. “Enquanto eu estiver viva, vou fazer tudo o que puder para vê-lo bem”, garante a dona de casa.

O companheirismo de Maria fez com que Pedro recuperasse parte da sociabilidade perdida por conta da doença. Durante um ano, a aposentada o acompanhou semanalmente em um projeto de estímulo à expressão corporal de pacientes com Alzheimer. A iniciativa, uma parceria de pesquisadores da Universidade Católica de Brasília (UCB) com a Policlínica de Taguatinga, adaptou movimentos da biodança para fazer com que os idosos reativassem a memória e o contato social.

— Antes, as pessoas vinham falar com ele e ele se escondia. Até para fazê-lo comer era um sacrifício. Quando começamos a ir aos encontros, ele melhorou muito. Era ele quem me chamava para ir à Policlínica todas as sextas-feiras — lembra a mulher de Pedro.

Cerca de 20 idosos participaram do projeto, entre julho de 2008 e julho do ano passado. A turma fazia exercícios para estimular três das cinco linhas abordadas pela biodança: a identidade, a afetividade e a criatividade.

— A pessoa que tem demência sofre perda gradual da memória. Muitos não sabem sequer como se chamam — afirma a professora Lucy Gomes, do mestrado em gerontologia da UCB. Em uma das atividades, os pacientes andavam por uma roda, olhando os colegas e dizendo o próprio nome. Se a pessoa não conseguisse falar, a turma ajudava e pronunciava em voz alta o nome do colega. Tudo conduzido ao som de música clássica.

Para estimular a afetividade, os idosos faziam movimentos em que a regra era dar e receber carinho, principalmente na cabeça, no tronco, nas mãos e nos pés.

— A afetividade é uma das coisas que se mantém até mesmo em estágios graves do Alzheimer. O estímulo afetivo remete a pessoa a momentos importantes, apagados pela doença — explica a professora Lucy. Por conta disso, a maioria das músicas utilizadas nos encontros é romântica, de cantores como Roberto Carlos e Elvis Presley. O momento “dor de cotovelo” pode até ser ruim para muitas pessoas, mas foi excelente para os idosos: mais de 75% deles tiveram melhora das funções cognitivas.

Uma das explicações para o bom resultado é que as ondas sonoras provocam as ondas cerebrais, fazendo com que os doentes recuperem sensações e sentimentos esquecidos.

— Há pesquisas que comprovam os benefícios da música nesses casos, mas a academia científica demora para reconhecer esse tipo de técnica. É um cuidado necessário, mas que mostra a resistência em aceitar tratamentos que fujam da abordagem farmacológica — diz a psicóloga Carmen de Cárdenas.

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